quarta-feira, 22 de maio de 2013

Luxo no lixo...

Já vi no lixo, O luxo... A sobrevivência... O carrinho sem rodas Que não deixava de ser um brinquedo... A boneca nua, Onde uma criança pobre se despia para vesti-la... O computador quebrado, Onde a imaginação fértil o consertava... A roupa usada, Que se transformava em seminova para aquele que necessita... O alimento desprezado ou desperdiçado Que saciava a fome de famintos... O livro usado Que ainda transmitia sabedoria... O caderno com folhas em branco, Onde qualquer um poderia escrever a sua história... Ao longo do tempo, Com as folhas preenchidas, Com a educação adquirida, Com toda a força de vontade de viver e vencer, Ainda enxergo da janela do meu carro Passando pela portaria do prédio onde moro, Uma senhora de cabelos brancos, Idosa e com sua sabedoria peculiar, De joelhos separando o usável do descartável Num local onde a maioria nomina de “lixo”, Ela delicadamente retirava o alimento, A educação, A moradia, Para seu neto Que ao seu lado, Por coincidência ou simplesmente ritual da vida, Também brincava com um carrinho sem rodas Interrompendo sua brincadeira momentaneamente Para olhar em meus olhos, Não apresentando um semblante de tristeza, Talvez os meus olhos, Ao contrário do dele, Estivesse naquele momento lacrimejado, Pois o olhar daquele menino transmitia esperança e inocência A inocência de uma criança, Esperança de um dia levantar a sua avó daquele lugar... Não imaginava ele, Que seu olhar brilhante e a sua felicidade com o carrinho nas mãos... Era superior a minha, Dentro do meu carro novo...

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